terça-feira, 12 de junho de 2007

O que fizeram com meu povo?

Onde está o senso crítico da sociedade
Por: Mauro Rodrigues de Aguiar

“Uma sociedade que perde seu senso crítico, perde a capacidade de lutar e o mundo perde a perspectiva de um dia se tornar menos injusto, e parece que a classe dominante da sociedade, com seus poderosos aparatos de comunicação de massa já descobriram isso”.

Quando vemos, estampado nos jornais, que uma multidão de três milhões de pessoas se prestam a participar de uma marcha em nome de uma religião cujo casal de líderes estão implicados em crimes financeiros, demonstrando sua adoração mais pelo dinheiro do que pelas questões espirituais que dizem acreditar, com o intuito claro de explorar a fé religiosa de seus seguidores em proveito próprio.

Quando vemos que três milhões participaram de uma passeata de GLBT completamente cooptada pelo sistema capitalista, com objetivos e reivindicações completamente diferentes das que fizeram parte das primeiras dessas passeatas a 11 anos atrás.

Quando vemos que, na Venezuela, milhares de venezuelanos se prestam a protestar contra seu governo por ter este deixado de renovar a concessão de uma rede de televisão com um vasto currículo de crimes contra a própria sociedade venezuelana, aproveitando o enorme poder de comunicação e manipulação de massa de uma concessão que é pública.

Quando vemos que, enquanto valorosos estudantes, professores e funcionários, depois de quatro longos meses de tentativas de diálogo com o governo e com a reitoria da USP sem sucesso sobre o caráter autoritário e excludente dos decretos do governador Jose Serra decidem organizar uma ocupação da reitoria, única alternativa deixada pelos donos do poder para que o diálogo pudesse ser aberto, outros estudantes, professores e funcionários, iguais em tese aos rebelados, se prestam a participar de um movimento contrário aos métodos dos colegas ocupantes sem apontarem outro método alternativo.

Quando todos sabemos que o capitalismo neoliberal faz concentrar cada vez mais a riqueza produzida pelos pobres nas mãos de poucos ricos enquanto entre os trabalhadores que produzem essa riqueza aumenta a fome e a miséria e ainda assim, poucos se dispõem a lutar contra essa injustiça enquanto a maioria dos explorados permanece inerte, passiva e pacífica contribuindo assim para perpetuar e agravar essas injustiças e aprofundar a degradação do ser humano e da natureza.

Quando trabalhamos para produzir a riqueza do estado e do patrão para que estes tenham cada vez mais poder de dominação sobre nós mesmos, quando nos matamos de trabalhar para fortalecer nossos opressores e repressores e, ainda assim, apenas uma minoria se rebela por saber que essa realidade não é imutável, é chegada a hora de a maioria ainda inerte procurar reencontrar seu senso crítico que se perdeu num passado distante, questionar-se sobre seu senso de justiça e sobre sua capacidade e necessidade de lutar coletivamente para mudar a nossa realidade.

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